O Zodíaco pode ser entendido como um repertório simbólico das sucessivas fases de maturação da mente humana, razão pela qual podemos falar de uma fase ariana, uma fase taurina, uma fase geminiana, e assim por diante. Cada fase caracteriza o que costuma predominar no Signo correspondente, como se em uma pessoa de Áries predominassem os traços genéricos da fase ariana, em uma pessoa de Touro ganhassem maior destaque os da fase taurina, e assim por diante até Peixes, por mais que toda psique atravesse, de alguma forma, em sua existência, todas as fases. Na interpretação arquetípica dos símbolos da Astrologia, como na vida, nada é absoluto – só Deus. Portanto, colher o significado destes símbolos requer habilidade e poesia, já que os segredos da existência e da mente só costumam se entregar a quem deles se aproxima com amizade e mansidão.
Tudo principia em ÁRIES.
Signo Cardeal de Fogo, marca o ímpeto da vida consciente que
brota do mar indiferenciado do inconsciente, donde a intensa inclinação a dar
início e ser pioneiro: semente recém-germinada, percebe-se nele o impulso para
a frente e para o alto. Como, simbolicamente, Fogo se associa a Intuição, a
fase de Áries vive à espreita de novas possibilidades, mesmo quando disto não
tem consciência. Daí, a proverbial impulsividade e impetuosidade do ariano.
Esta impulsividade precisa ser direcionada, contida e bem
aproveitada, e para tanto a fase de TOURO se impõe: o enfoque prático e
metódico estabelece a base estável que na fase anterior não era possível nem
conveniente. Signo Fixo de Terra, nele predomina a Sensação e as formas
materiais e externas o dominam amplamente, na busca de uma existência segura do
ponto de vista objetivo. Deve-se a isto as tão comentadas praticidade e
possessividade material do taurino.
Após a fase inaugural e a de obtenção de segurança, a mente
almeja estabelecer conexões entre aspectos tão díspares quanto pessoas, ideias,
fatos e objetos. Como se olhasse o mundo pela primeira vez, na fase de GÊMEOS a
psique vê a vida como um todo multimanifestado, sendo necessário explorá-lo (em
termos intelectuais e de território conhecido) para conhecer como é tudo o que
está nele contido. Signo Mutável de Ar, vai com o Pensamento de dado em dado,
regalando-se com a variedade de informações. Por este motivo, são proverbiais a
dispersão e o aparente superficialismo do geminiano.
Consolidado em Touro o impulso inicial de Áries e ampliado o
universo de informações em Gêmeos, na fase de CÂNCER a mente busca estruturar
as próprias bases afetivas. Signo Cardeal de Água, é com bastante força e
Sentimento que este suporte vital é constituído, antes de a fase seguinte poder
ser vivida. Donde a extrema sentimentalidade e o forte emocionalismo, além dos
intensos ciúmes e da possessividade afetiva, do canceriano.
Nas primeiras quatro fases, as possibilidades pessoais foram
estabelecidas e se explorou também, intelectual e sentimentalmente, o mundo.
Agora, na quinta fase, a de LEÃO, o indivíduo já se assegurou de si, mas ainda
não está seguro de que sua identidade está assegurada no grupo a que pertence. Em
decorrência, a psique ambiciona fazer da pessoa algo maior do que si mesma,
visando, assim, garantir-lhe ampla visibilidade e um lugar no grupo. Signo Fixo de Fogo, põe a Intuição a serviço de estabelecer
as bases de autoconsciência necessárias para iniciar o cultivo da personalidade
no traquejo social. Dinâmica interna que costuma dar margem às manifestações do
que, se entendido de modo ligeiro, parece soberba ou excesso de autoimportância
atribuída em tudo com o que o leonino “vaidoso de si” se envolve.
A fase de VIRGEM, por sua vez, é tanto consequência da fase
anterior quanto reação a ela, na qual autoimagem, autoexpressão e concentração
em si eram chaves. Trata-se, agora, de discriminar as coisas, com base na análise
crítica das consequências de ações e relações humanas. Signo Mutável de Terra,
também mobiliza poderosamente a Sensação a serviço da objetividade adquirível
pelo trabalho, muito trabalho, mas não como na fase de Touro, que era mais
voltada a deter segurança material para sobreviver. Agora, é preciso
classificar, criticar e ordenar os dados obtidos sobre a diversidade e as
razões da vida. Com a meticulosidade detalhista e a marcada inclinação à
categorização, quase compulsiva, que o virginiano costuma apresentar.
A fase seguinte, de LIBRA, resulta da atenuação do foco em
si para incorporação do “outro” na vida, por meio de relacionamentos internalizados.
A convivência com “o outro” é sempre vivência de parte inconsciente de si, e o
entendimento necessário para construir e sedimentar harmoniosamente este
convívio só é possível por meio do Pensamento e buscado com forte intensidade,
numa fase caracterizada por um Signo Cardeal de Ar. Por isso, o libriano é
marcadamente propenso à construção de elaboradas soluções de compromisso entre
aspectos diferentes que se relacionam, sejam pessoas, características,
instituições ou fatos. Mas o laboratório da vida não se resume a pensamentos e a
fase escorpiana leva a psique a experimentar em termos sentimentais as
descobertas racionais da fase libriana sobre “o outro”.
Donde o mergulho
profundo de ESCORPIÃO nos recessos sentimentais da mente, preparando a
dissolução do ego pessoal na coletividade, que deverá ser imprescindível em
fase posterior. Para tão forte trabalho no terreno do Sentimento, este Signo de
Água tem de ser Fixo para ser persistente, embora sua inclinação à
retentividade seja menos pela segurança material, como ocorria na fase taurina,
e mais pela necessidade de experimentar-se em afetos, por costume doloridos e
associados a apego e perda. Desta intensíssima luta interna travada no terreno
sempre instável dos sentimentos deriva a tradicional imagem de contínua tensão
interna e sofrimento incessante, do escorpiano. Estabelecida a relação de convívio com “o outro” (fase de
Libra), e de fusão sentimental “nele” (fase de Escorpião), é necessário avançar
no espírito abstrato para elaborar sínteses de todo o conhecimento e
experiência até então obtidos. O raciocínio discriminatório, por meio do qual a
individualidade foi demarcada, começa a ser transformado, donde a necessidade
de subordinar-se ao que é mais coletivo, pelo brotamento de princípios grupais.
Indicada por um Signo Mutável de Fogo, a fase de SAGITÁRIO mobiliza
poderosamente a Intuição e busca algo ainda não acessível à lógica formal e aos
sentidos, por ser um ideal, ampliando assim, e de modo enorme, o conjunto de
referenciais: pela primeira vez “o bosque” passa a ser fundamental, já que “as
árvores” haviam sido conhecidas na fase geminiana e qualificadas na fase
virginiana. A mente se expande com assombroso otimismo e busca transcender
fronteiras familiares ou comunitárias mais estreitas, tentando descortinar uma
grande irmandade. Causa da forte inclinação do sagitariano para “grupos de
amigos”, a extrema propensão relacional e a fé inabalável na possibilidade de
participar de um futuro “magnífico”, o que o faz parecer algo gabola e façanheiro.
Na fase seguinte, tudo o que foi aprendido e entendido
anteriormente é submetido ao rígido teste da prática, antes de ser assimilado. Ter
estabilidade de formas ou arcabouço é fundamental neste ponto, e CAPRICÓRNIO,
Signo Cardeal de Terra, põe a energia pessoal e a função Sensação a serviço de
concretizar as formas. Independência é assunto de extrema importância, pois
nela habita a possibilidade de definir e delimitar a própria identidade e de
ter espaço para a concretização das estruturas convenientes aos seus
“importantes” planos e projetos. Para tudo isso a paciência é necessária e a persistência
predomina: por mais longínquo que esteja o objetivo, a pessoa entende que deve
enfrentar o necessário para atingi-lo.
Evidenciam-se, assim, os traços do capricorniano:
perseverança, ambição (de realização), longa paciência e resistência a
desenganos ou acidentes de percurso, além da inclinação poderosa a estruturar e
rotinizar o que lhe caia ao alcance.
Adiante, o que foi definido como útil na fase de Capricórnio
será submetido à minuciosa análise do pensamento. Trata-se do teste de
validação no coletivo: ao teimosamente rígido e reflexivo “senso de eu”
manifestado pela psique na fase anterior (razão pela qual o capricorniano
parece autocentrado em demasia), a fase de AQUÁRIO contrapõe a alternativa
intelectual da impessoalidade, pelo Pensamento, também necessária à submissão
do ego ao coletivo. Mas esta aparente impessoalidade deriva do Ar do Signo,
pois, sendo Fixo, Aquário traz para si todas as conclusões a que chega, nem que
seja para descartá-las a seguir.
Para tanto, o aquariano é acentuadamente sacador,
aparentemente anárquico e intensamente radical em suas proposições intelectuais
arrojadas, mas nem sempre fundamentadas, já que exploratórias. Com precisão,
canta a rainha brasileira do rock, Rita Lee, em seu Hino dos malucos: Malucos, somos a mola desse mundo, mas nunca
iremos muito a fundo nesse dilema tão profundo.
Vindo, por fim, a derradeira fornalha nesta sucessão de
fases, para que a mente, tendo percorrido todas e submergido em si própria ao
final, possa emergir depois para percorrer ciclicamente e outra vez mais toda a
série, talvez agora mais bem integrada, partindo novamente como o ariano
impetuoso e cabeçudo para chegar de novo ao pisciano sentimental e devotado ao
próximo! Este último laboratório de si teria de ser, sem dúvida, o da
sentimentalidade e mutabilidade extremas, donde PEIXES ser Signo Mutável de Água
e fazer do Sentimento ponte de passagem natural entre o corpo, o pensamento, as
sensações e as intuições, por meio da valoração afetiva propiciadora de um
posicionamento mais adequado no mundo. Como reação à fase aquariana e sua
ênfase excessiva no pensamento, a fase pisciana será quase que só Sentimento,
embora não mais intimista, como ocorreu com Câncer, nem voltado ao embate com
“o outro”, como no caso de Escorpião, os outros Signos de Água. A impessoalidade iniciada em Capricórnio e intensificada em
Aquário é conquista preciosa da qual não se abre mão. Deriva daí a
sentimentalidade compassiva martirizada ou “redentora” do pisciano, além de sua
exacerbada facilidade natural em estabelecer empatia com o que advém da esfera
de sentimentos do próximo, o que lhe reforça a capacidade de compaixão e dá-lhe
a vigorosa inclinação a buscar experimentar estados alterados de consciência,
facilitadores de uma fusão sentimental despersonalizada com “o outro” ou o
grupo.
Se na fase aquariana o indivíduo se assenhoreou do processo
de quebra de formas e modos anteriores, para a rearticulação em outros, na fase
pisciana este dinamismo tem sua sequência natural com a dissolução radical de
tudo, para permitir a entrada da consciência no mundo do que não tem forma, o
mundo dos sonhos, ideias e ideais. Porque o mundo da “não forma” contém, como
em um campo quântico, todas as possibilidades fenomênicas em potencial e todos
os acúmulos de conhecimento e experiência depositados no inconsciente mais
profundo, arquetípico e impessoal. Do qual brota a força de todos os impulsos
psíquicos essenciais e para o qual aponta, por meio de longa viagem interna,
todo bom desenvolvimento pessoal que ir a fundo em si mesmo.
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