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11 de jan. de 2017

Quando a inteligência e o bom senso entram em colapso


Em pleno 2017, ainda me espanta o quanto as pessoas relutam em admitir que a Astrologia não diz respeito a “energias cósmicas” e, sim, a alguma outra coisa.
Esta relutância é tão acentuada, e sua base se assenta em tão desesperada necessidade de atribuir expressão matemática, ou “científica”, à mera superstição sobre “energias planetárias”, que a capacidade humana de inteligência sucumbe: em momentos assim, falta a muita gente um mínimo de bom-senso para ver de imediato quão impossíveis são os supostos fatos que são oferecidos como um prato feito...

Aqueles que se interessam por Astrologia, quer como quase todo mundo, por acreditar ser algo “místico” e gerador de curiosidade, quer como estudiosos ou, até, profissionais, têm sido impactados neste começo de 2017 com informação sobre “um fato astronômico raro, de grande importância astrológica”: o “Período de Todos os Planetas em Movimento Direto”, entre 08 de janeiro e 6 de fevereiro deste ano.
Segundo esta informação, divulgada mundialmente pelo site “The Mind Unleashed”, um espaço virtual que já suscitou alertas em muitos países sobre a reduzida credibilidade do que lá é publicado, “agora, aqui neste momento, de nossa visão geocêntrica, todo o nosso Sistema Solar está se movendo junto na mesma direção, fluindo como UM no rio cósmico, todos viajando na mesma direção. Da posição do Sol ou da perspectiva da Terra, Todos os Planetas em Movimento Direto representam uma passagem agrupada orgânica, holística, síncrona e harmoniosa através do Universo”.
Tudo isto que foi dito não quer dizer nada, absolutamente nada, senão uma coleção de clichês e frases de efeito, e o que mais incomoda é que baboseiras deste tipo, despreocupadamente replicadas no Facebook (https://www.facebook.com/events/276761872739069/) ou por meio de outros sites, nacionais e ou estrangeiros, mantêm o descrédito na seriedade possível da Astrologia e desestimulam o avanço de bons estudos dedicados a compreender melhor as razões de sua eficácia.
Que a Astrologia funciona (quando praticada de modo competente), não há dúvida; o que a faz funcionar, porém, é o que resta entender melhor – mas como avançar, enquanto se continuar acreditando nesta superstição sobre as tais “energias planetárias”?

Vamos ver a notícia.
Diz ela: “agora, aqui neste momento, todo o sistema solar está se movendo junto na mesma direção”.
Ora... isto: “se movendo junto na mesma direção”, ocorre desde o surgimento do sistema solar, já que o sistema solar se desloca no cosmo acompanhando a trajetória do Sol, em direção ao local cósmico onde hoje se vê a estrela Vega. Quando o Sol se se desloca, todos os planetas vão “junto e em bloco”, já que orbitam em torno dele e não há alternativa senão irem “na mesma direção”.
Digo assim: “hoje se vê”, porque daqui a centenas de milhares de anos, quando o Sol chegar naquele local do cosmo, a estrela Vega não mais lá estará, pois, por sua vez, terá também se movido.
Já, pela afirmação: “de nossa visão geocêntrica, todo o nosso Sistema Solar está se movendo junto na mesma direção”, alguém menos atento poderia também crer que a notícia informa que, do ponto de vista da Terra, todos os planetas e cada um deles estão se deslocando em uma mesma direção – e isto, certamente não ocorre.

Veja na ilustração abaixo como cada planeta se move em uma diferente direção todo o tempo, seja qual for o ponto de vista, sendo que apenas a força gravitacional do Sol (e outras forças cósmicas, em combinação) é que mantém os planetas orbitando em torno a ele e, por isso, compondo um “sistema”.


Como se percebe com grande facilidade, caso num passe de mágica o Sol desaparecesse, e sumisse o que mantém os planetas orbitando em torno de um ponto (o Sol), cada planeta se deslocaria obedecendo um próprio vetor (as setas), indo cada um para um local distinto no cosmo, de modo completamente harmonioso com as forças da natureza cósmica.
A notícia vai além e informa: “da posição do Sol ou da perspectiva da Terra, Todos os Planetas em Movimento Direto representam uma passagem agrupada orgânica, holística, síncrona e harmoniosa através do Universo”.
O que é um absurdo, tanto do ponto de vista astrológico quanto do astronômico, embora seja bem bonitinho pensar assim.
Astrologicamente, não há como conciliar a posição do Sol e a perspectiva da Terra em se tratando de questões associadas ao Zodíaco, já que os planetas e os Signos só têm sentido simbólico quando são pensados a partir da perspectiva da Terra, isto é, geocêntrica. Afinal, o Zodíaco não tem existência natural e é fruto de imaginação humana: fora da mente humana, ele não existe.
Astronomicamente, ou “da posição do Sol”, não cabe falar em movimento retrógrado, isto é, não direto, pois só se pode falar de movimento retrógrado quando falamos do ponto de vista da Terra, na medida em que a chamada retrogradação dos planetas é fenômeno análogo à ilusão de óptica e, não, fenômeno com existência física, objetiva.
Para lembrar a quem conhece, ou explicar sucintamente a quem não sabe, a retrogradação é o fato de os planetas, apenas do ponto de vista da Terra, “parecerem andar em marcha a ré” sobre o Zodíaco em certas épocas (embora não o façam de fato, já que seguem continuadamente em suas órbitas).
Como todos os corpos siderais estão em incessante movimento, uns em relação aos outros e em órbitas diferentes, enquanto o Zodíaco permanece imóvel sobre a Eclíptica (faixa do céu na qual, do ponto de vista da Terra, o Sol parece transitar), há períodos variáveis e matematicamente previsíveis na mecânica celeste em que este ou aquele planeta, cuja órbita se relaciona à órbita da Terra pela Eclíptica, “parece” ir cessando seu movimento regular de avanço sobre o Zodíaco, parar e retroceder, isto é, retrogradar, até deter o próprio retrocesso e voltar a avançar.
Mas, de fato, os planetas não se movimentam nunca “para trás” e sua retrogradação é pura ilusão de óptica (em verdade, logarítmica), em sua trajetória zodiacal estabelecida do ponto de vista da Terra.
Veja no exemplo abaixo como se dá a aparente retrogradação: se visto da Terra, em nove posições sucessivas o planeta Mercúrio parece avançar do início do Signo de Libra para o início do Signo de Escorpião e, a seguir, retrogradar até quase meados do Signo de Virgem para, mais à frente, voltar a avançar rumo a Virgem e, depois, Escorpião.


Tudo ilusão, só ilusão de óptica (ou logarítmica), e ilusão não emite energia, seja que energia for.

A notícia diz: “O TPMD é considerado um tempo em que o Universo está no estado de ordem natural com todos os planetas viajando para frente”.
Ora, pergunta-se: e quando é que o universo não está em estado de ordem natural? Apenas, a nosso ver, o humano, quando ocorre uma hecatombe.
E, mesmo assim, um acidente natural de imensas proporções, o universo continua na sua ordem natural, embora possa não ser a ordem que nós, pessoas, gostaríamos.
Pense em um tsunami.
Do ponto de vista das populações atingidas, foi uma catástrofe e uma subversão da “ordem natural das coisas”. Do ponto de vista do universo, porém, foi apenas uma sequência perfeitamente natural e ordenada de fatos: uma placa tectônica suboceânica se moveu e ocasionou um terremoto marinho, este terremoto deslocou descomunais massas de água de baixo para cima, estas massas originaram ondas imensas ao se deslocarem pela superfície do mar (de acordo com princípios físicos naturais) e, a seguir, afogaram (pela água) e destruíram (pelo impacto físico) dezenas de quilômetros quadrados de vegetação, vida animal e civilização em algum lugar. Logo após, como se nada tivesse ocorrido, a água escorreu para dentro da terra e para rios ou lagos, ou voltou para o mar, tudo natural, tudo como a natureza é, tudo seguindo sua ordem natural.

Mas a notícia diz também: “O momento auspicioso do TPMD de 2017 é recomendado pelos astrólogos para fusões bem sucedidas, casamentos, grandes aquisições, eventos de caridade, operações físicas, inaugurações, lançamento de um novo negócio, surgimento de um novo líder e qualquer outra coisa que se deseja um resultado positivo”.
Ôpa! Isto é bacana!
Não, porque alguma suposta “energia dos planetas” que não retrogradam causará algo, já que isto não ocorre, mas pelo fato de que, segundo a notícia, “os antigos interpretavam isto como um momento de grande fortuna e um tempo muito positivo”.
Em outras palavras (supondo ser verdade a afirmação de que esta interpretação de um TPMD é antiga, já que a matéria informa que a astróloga Stephanie Forest é pioneira em escrever sobre este tipo de ocorrência astrológica), há muito se verifica, durante a duração deste específico conjunto simbólico (“todos os planetas em movimento direto, sem nenhum retrogradando”), ser um tempo auspicioso e favorável a certos tipos de acontecimento (embora “qualquer outra coisa que se deseja um resultado positivo”, já que fala de tudo, não diz de nada específico).

Isto, é o que interessa saber: o que é que faz com que certas disposições simbólicas na Astrologia denotem exatamente “isto” e, não, “aquilo”?
Se sabemos que não se trata de “energias dos planetas”, de que se trata, então?
Por que “isto” (um certo conjunto simbólico) indica exatamente “aquilo” (uma certa sucessão de fatos ou ocorrências) e confere eficácia à Astrologia?
Aí, sim, merece estudo e pesquisa, para os quais, pesquisar e estudar, a primeira coisa é admitir que na verdade ainda não se sabe, atitude intelectual humilde que só é possível quando alguém se decide por abrir mão de noções supersticiosas que parecem explicar.

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