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23 de fev. de 2016

AUTOCONHECIMENTO PARA REFORMA ÍNTIMA

Em meados de década de 1980 enfrentei a necessidade de metodizar a entrevista devolutiva, para que a multiplicidade de informações oferecida pela Carta Natal pudesse compor uma narrativa organizada em linguagem leiga (isto é, sem jargão astrológico) que ordenasse as informações em um cenário roteirizado facilmente identificável e compreensível pela pessoa atendida.
A mente humana está a todo tempo engendrando e contando narrativas, quer para expressar-se, quer para assimilar o que está sendo percebido. É assim que ela funciona.
Portanto, quanto mais possível fosse apresentar as informações da Carta Natal dentro de um ordenamento dinâmico que viesse das fases finais da gestação até a vida adulta, passando pela infância e puberdade, mais fácil seria para a pessoa, depois, aproveitar as informações no trabalho de autoconhecimento para reforma íntima que estivesse desenvolvendo ou pretendendo desenvolver.

Em decorrência de minhas pesquisas, optei por estabelecer duas classes distintas de conteúdos psíquicos que se revelam pela interpretação arquetípica da Carta Natal:
a. fatores psicodinâmicos inatos, que passei a denominar “traços estruturais de personalidade”;
b. fatores psicodinâmicos condicionados, que passei a denominar “traços conjunturais de personalidade”, na medida em que passaram a vigorar por introjeção de dados da conjuntura vivida pela pessoa quando criança, dadas as características do ambiente de primeira infância.
Tais diferentes classes de conteúdos psíquicos merecem abordagens distintas pelo indivíduo, pois os traços estruturais, que são tipológicos, requerem “gerenciamento de aspectos pessoais perenes”, ao passo que os traços conjunturais, por decorrerem de treinamento por exposição a modelos paterno e materno, devem – e podem – ser alvo de “desprogramação” ou descondicionamento, seja em terapia, seja em reforma íntima empreendida por si próprio.

Com este método, por década e meia atendi pessoas interessadas em desvendar os mistérios de sua personalidade, já que tudo decorre da mente: o que somos “aqui fora” em enorme parte depende de como somos “lá dentro”.
Depois, passei a atender indo ao encontro da pessoa e, adiante, passei a atender apenas virtualmente, oferecendo relatórios escritos de interpretação elaborados um a um, isto é, não por software, dada a delicadeza e a intimidade de cada caso.

Se houve uma estrada pela qual a pessoa veio do nascimento até o momento presente de sua vida, relembrar e ressignificar o já vivido, do mais remoto ao atual, seria facilitado se fossem assinalados os principais pontos de referência para o caminho de volta e a retomada de si, sobre os quais a pessoa poderia, então, se debruçar para poder viver um hoje reformado para melhor.
Nisto, busquei ecoar Jung:
"o simples conhecimento intelectual não basta, pois só é eficaz uma rememoração que seja ao mesmo tempo vivenciada de novo. Muitas coisas irresolvidas ficam para trás devido ao rápido escoar dos anos e ao afluxo invencível do mundo que acaba de ser descoberto. Mas não nos livramos destas coisas, apenas nos afastamos delas. Se muito tempo depois evocarmos novamente a infância, nela encontraremos muitos fragmentos vivos da própria personalidade, que nos agarram, e somos invadidos pelo sentimento dos anos transcorridos. Esses fragmentos permanecem num estágio infantil e por isso são intensos e imediatos. Só por meio de sua religação com o consciente adulto poderão ser corrigidos, perdendo seu aspecto infantil".
Ou, como Fernando Pessoa poetou:
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
quero ir buscar quem fui onde ficou.

No desenvolvimento de um modelo de estrutura narrativa eficiente para apresentar por escrito a interpretação da Carta Natal segundo a Astrologia Arquetípica, fui auxiliado pelo fato de ser jornalista e ter atuado nas três principais funções da imprensa escrita (repórter, redator e editor), enquanto treino de desenvolvimento de competências complementares: coleta de informações, tradução das informações em redações concisas e disposição dos conteúdos redigidos em narrativas gerais contextualizadas.
E de ser escritor, o que facilitou quando por fim passei a interpretar apenas por escrito (graças à Internet): tendo os dados natais da pessoa, ao invés de recebê-la para duas ou três horas de entrevista pessoal passei a enviar um relatório de interpretação para depois responder, também por escrito (e-mail), a dúvidas surgidas ou necessidade de esclarecimento adicional.

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