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6 de out. de 2015

ASTROLOGIA ARQUETÍPICA E TRANSDISCIPLINARIDADE, NO APOIO AO ATENDIMENTO PSICOTERAPÊUTICO

Em setembro passado eu deveria ter participado da “X Jornada Gaúcha de Astrologia e Transdisciplinaridade”, na Universidade da Paz – Rio Grande do Sul.
Por infortúnio não pude, por uma série de desafios pessoais surgidos inesperadamente.
Decidi publicar aqui no blog, então, o que eu teria apresentado lá.
Como é material longo e complexo, será exposto em duas partes.
Quando da segunda parte, publicarei também o material de apresentação visual que teria embasado minha participação.


Creio que, com isto, ajudarei a enriquecer a compreensão que se possa ter sobre a Astrologia Clínica, de perfil e feitio psicodinâmico, à qual me dediquei desde 1985.

É importante esclarecer que penso a Astrologia Arquetípica como uma meta-Astrologia, frisando que “meta-Astrologia” não é uma técnica interpretativa de símbolos astrológicos. O termo “meta” é proposto no conceito aristotélico: se, em Aristóteles, Metafísica era o estudo do que transcende o sensível, do grego phusikós, “da natureza” (Houaiss), meta-Astrologia é o estudo que lida criticamente com as diferentes Astrologias dentro de um conjunto nocional que almeja ultrapassar as características peculiares de qualquer delas para focar no que haja de comum nelas todas – o que e como, realmente, elas denotam –, enquanto recursos descritivos de fenômenos que se dão no transcorrer do espaço-tempo.


I.
A Astrologia é, por natureza, transdisciplinar.
Como recurso técnico de diagnóstico ou prognóstico, ela não se basta em si: sendo símbolo, ela se expressa ao referir-se a algo, e este algo forçosamente abrange conceitos e vocabulário de outras disciplinas, em geral combinadas.
Se é Astrologia Mundial, se expressa por conhecimentos de Antropologia, Ciência Política, História e Sociologia.
Se é Astrologia Eletiva para Negócios, se expressa por conhecimentos de Administração, Direito e Economia.
Se é Astrologia Médica, se expressa por conhecimentos de Química Orgânica, Biologia e Fisiologia.
Se é Astrologia Vocacional, se expressa por conhecimentos de Pedagogia ou Psicopedagogia, bem como de Psicologia da Educação.
Como técnica (ou arte) de interpretação descritiva de aspectos da existência para diagnóstico e ou prognóstico, sua sintaxe simbólica é orientada pelo propósito, isto é, constrói-se conforme se orienta para este ou aquele assunto.
De acordo com o que se pretende diagnosticar ou prognosticar, organiza os múltiplos significados de seus símbolos e elabora a narrativa que parece mais bem atender à demanda de diagnóstico ou prognóstico.
Dá-se o mesmo com a Astrologia Clínica, de perfil psicológico: desenvolvida para enriquecer o atendimento psicoterapêutico, ela se expressa por meio de conhecimentos das Ciências da mente, entre elas a Psicologia e as Neurociências, e campos simbólicos de conhecimento, como a Mitologia.

II.
A Astrologia não é “saber básico”, de bancada, e, sim, “saber aplicado”, isto é, seu existir se dá de fato ao se manifestar por uma narrativa que objetiva instrumentalizar alguém no diagnóstico ou prognóstico de parcela da existência, seja mundo, sociedade, grupo, família ou indivíduo (e ainda coisa e evento), podendo embasar atitudes e/ou ações propositivas e/ou corretivas.
Se ela se faz ao narrar, e pretende ser eficiente ao diagnosticar ou prognosticar, a Astrologia deve adotar alguns princípios reitores da boa comunicação:
quantidade: a narrativa deve conter a quantidade necessária de informação e, ao mesmo tempo, não conter mais informação do que o necessário;
qualidade: a narrativa não deve afirmar aquilo que não se julga ser verdadeiro e nem aquilo que não se pode analisar ou comprovar;
pertinência: a narrativa deve se ater apenas àquilo que seja pertinente ao assunto comunicado;
objetividade: a narrativa não deve ser expressa de forma obscura ou ambígua.
Lembrei em Por uma Filosofia da Astrologia: se dá espaço ao exercício das associações que são imprescindíveis no trabalho de interpretar símbolos, a Astrologia Arquetípica deixa vãos enormes para imprecisão conceitual, linguagem vaga e generalista, uso amplificado de figuras de retórica (alegorias, analogias, metáforas e metonímias), enfim, tudo aquilo que não é propriamente objetivo e consistente ao se expressar e fica por conta de quem interpreta ou recebe a interpretação, com o que, muitas vezes, até mesmo a boa informação pode levar ao mau entendimento. Destacando e valorizando o seu conteúdo (e sua técnica), ela deve entregar uma boa narração.

III.
Boa narração requer precisão expressiva, inda mais num cenário de “religação de saberes”, de múltiplas técnicas com propósitos específicos (interpretação de Carta Natal, Progressões e Trânsitos, Sinastria, Eletiva, Horária, etc) e, por vezes, de apropriações ligeiras de conhecimentos de áreas complexas.
Manter esta precisão é um importante desafio da Astrologia Arquetípica: ao se oferecer como narradora do que se quer diagnosticar ou prognosticar, ela deve ultrapassar o simbólico (lírico, mesmo) em proveito de uma adequada descrição discursiva no que e como diz aquilo de que vai falar, seja o que for, para oferecer conhecimento utilizável por aquele ou aquela a quem ela serve.
Um dos complicadores é a inevitável apropriação que a Astrologia faz do discurso e do vocabulário de campos de conhecimento muito díspares – como a Astronomia e a Mitologia –, sem deter um seu próprio (exceto quanto ao jargão eminentemente metodológico).
Isto, para nem mencionar a imbricação habitualmente verificada entre a Astrologia e as técnicas (ou artes) ditas arcanas, como o Tarô, Cabala ou I Ching, quando símbolos se mesclam e recombinam de modo nem sempre congruente e explicável com nitidez, já que não se alerta de modo explícito que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa: a despeito do valor que tais técnicas tenham, Astrologia não é Tarô, Cabala e nem I Ching, e precisão expressiva é imprescindível no ofício interpretativo, para relativizar o lado cantante da alma.
Penso no termo que é o coringa das palavras: “coisa”. Ao absurdo, pode ser dito: “eu peguei uma coisa e pensei uma coisa; aí, eu senti uma coisa tão forte que preferi largar”. Nada específico foi comunicado, por mais que pareça ter sido significado algo. Objeto, pensamento e sentimento, tudo é coisa.
E coisa, aqui, nada disse.

IV.
No âmbito da especialidade psicológica da Astrologia Arquetípica, que é o foco mantido aqui, e como defini no livro Astrologia clínica, um método de autoconhecimento, é uma bênção dispor de um instrumento que propicie clara percepção do que ocorre nos desvãos do inconsciente, aos quais nem a própria pessoa tem acesso. Mas é igual bênção dispor de um arcabouço conceitual que propicie entender melhor, e como encaminhar de modo mais adequado, o que é então percebido. Pois se uma coisa é perceber e outra é compreender, apenas ambas bem articuladas é que propiciam uma ação congruente, responsável e benfazeja, com base no já percebido e então compreendido.
Na primeira parte: “clara percepção do que ocorre nos desvãos do inconsciente”, eu me referia à descrição diagnóstica da realidade psíquica para a qual a Astrologia Arquetípica é competente. Na segunda: “arcabouço conceitual que propicie entender melhor, e como encaminhar de modo mais adequado”, eu aludia ao pensar e fazer psicoterapêuticos (seja terapia profunda, breve ou de aconselhamento), para os quais o Psicólogo clínico é habilitado.
Uma, auxilia a diagnosticar; outra, sistematiza e desenvolve o procedimento terapêutico, se, quando e do jeito que for preciso.
É delicado este balanceamento, pois se parece impor rigor excessivo e, com isto, pode afastar ou desanimar quem pretende se desenvolver no ofício da Astrologia, por outro lado preserva qualidade, em informação e desempenho, ao delimitar aquilo que é oferecido: descrição da realidade mental de alguém, para, entre outros objetivos, apoio ao ofício da Psicoterapia.
Ao argumento: “ora, que mal pode haver se houver erro na interpretação?”, responde-se: pode haver muito dano, na exata medida em que os dados fornecidos na consulta de interpretação podem ser tidos pelo consulente como base suficiente para avaliações, decisões e ações, até mesmo a de se matar.
Falei, acima, de dois diferentes ofícios, o da Astrologia e o da Psicoterapia, porque astrólogo não é terapeuta – e isto deve ser dito de modo franco. Para além de conhecimentos gerais sobre Humanidades, para além de compaixão pelo próximo, para além de vocação para o labor, é essencial ter preparo teórico e metodológico para a delicada tarefa de acompanhar terapeuticamente alguém em tarefas de autoconhecimento para aprimoramento íntimo por ressignificação e catarse, o que ultrapassa com folga a interpretação narrativa astrológica e requer o preparo técnico característico do terapeuta.
Tal tipo de cuidado atento respeitoso, se é essencial para a fértil aproximação da Astrologia Arquetípica com a atividade clínica da Psicologia, o é também ao relacioná-la com outros campos de conhecimento, pois em todos eles há especificidades que devem ser preservadas e defendidas, por não serem apenas miopia ou estreitas limitações do modelo positivista, como querem alguns, a eliminar ou desconsiderar a priori.

(Fim da primeira parte)

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